Não é incomum ver pessoas atravessando as ruas e avenidas de João Pessoa em locais fora da faixa de pedestres — muitas vezes, a poucos metros dela —, colocando em risco a sua segurança e interferindo no fluxo do trânsito. Em outras situações, os pedestres atravessam de forma abrupta, sem esperar que os veículos reduzam a velocidade e parem, para que se atravesse com tranquilidade. Por outro lado, também é costumeiro ver motoristas que não respeitam esse equipamento e não se detêm para a travessia de quem está a pé. O problema parece ser uma via de mão dupla.
"Só devemos atravessar diante da certeza de que o carro está parado. Não podemos confiar"
- Nilton Pereira
Segundo Nilton Pereira, especialista em Mobilidade Urbana, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) diz que o pedestre tem prioridade no sistema viário. “Ele não precisaria nem dar a mão. Se há uma faixa de pedestres, ao se aproximar da faixa, os carros já deveriam reduzir a velocidade e parar”, destacou. Porém, ele acrescentou que, por parte dos pedestres, é necessário também ter o entendimento de que o motorista precisa de um tempo para diminuir o ritmo do veículo e parar com segurança.
“Não é simplesmente chegar e atravessar; é preciso dar um tempo para o motorista perceber que a pessoa está se aproximando e que faz menção de cruzar a rua. Então, ele reduz a velocidade e para. Do contrário, pode acabar em acidente”, afirmou. Segundo ele, nos casos em que há um semáforo para os pedestres, chamados de botoeira, o correto é apertar o botão, esperar o sinal ficar vermelho para os carros e, só então, fazer a travessia. “Mesmo assim, só devemos atravessar diante da certeza de que o carro está parado. Não se pode confiar, pois nem sempre o motorista vai obedecer ao semáforo ou ao aceno do pedestre”, reforçou.
Respeito
No Bairro de Cruz das Armas, a moradora Zaine Silva contou que, muitas vezes, sente dificuldade para atravessar a rua na faixa de pedestres. “Principalmente no trecho próximo ao Hospital da Mulher, que está em construção. Essa faixa não é obedecida pelos motoristas. Seria muito bom se tivesse um sinal aqui, porque, assim, teria um momento para os carros realmente pararem e darem vez ao pedestre”, sugeriu.
Zaine lembrou que, quando o hospital estiver funcionando, a travessia segura será ainda mais necessária naquele local. “Tento sempre atravessar nas faixas de pedestres. Às vezes, quando estou com muita pressa, acabo não respeitando, mas, na maioria das vezes, sim”, disse. A moradora ainda observou que o respeito dos motoristas quanto às faixas de pedestres é mais comum nos bairros da orla.
O taxista Ivan Batista da Silva disse que busca respeitar essa sinalização, mas reclamou que muitos pedestres atrapalham os motoristas na hora da travessia. “Tem gente que não espera, quer passar logo, mas primeiro tem que acenar com a mão, para o carro parar e, só então, a pessoa passar. É o correto, para passar com segurança na faixa, mas muita gente não está nem aí”, afirmou.
Ele disse que vê muitas pessoas atravessando fora da faixa, em toda a cidade. “Às vezes, os carros param na faixa, mas vem um motoqueiro pelo meio e não respeita. A maioria para, mas alguns não respeitam. Ali mesmo, perto da Feira de Oitizeiro, uma pessoa já morreu assim, atropelada por uma moto. É proibido, mas eles passam entre os carros”, destacou.
Responsabilização
Segundo Nilton Pereira, atravessar antes ou depois da faixa de pedestres é problemático não somente pela possibilidade de causar acidentes, mas porque dificulta o processo de responsabilização. “Se a pessoa é atropelada quando está na faixa de pedestres, não tem jeito, o motorista está errado. Já no caso de isso acontecer num local em que não há faixa, o pedestre também terá a sua parcela de culpa. A não ser que o motorista estivesse em alta velocidade e que isso fosse constatado”, explicou.
Ele também explicou que, em vias onde não há faixas de pedestres, é necessário ter cautela e esperar o momento oportuno para cruzar a rua com segurança, sobretudo em vias mais movimentadas. Conforme Nilton, o CTB prevê penalidades para os pedestres que atravessam fora da faixa, mas isso nunca foi regulamentado, para que houvesse aplicação.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 06 de novembro de 2024.