A Praça de Iemanjá, ou Praça da Santinha, como é conhecida por parte da população de João Pessoa, na Avenida Cabo Branco, será revitalizada. O anúncio, feito pela Secretaria de Planejamento da Capital (Seplan) na primeira semana de outubro, informou que o custo será na ordem de R$ 650 mil e vai incluir espaço para contemplação, área de estacionamento, bancos, e a imagem de Iemanjá, que se encontra danificada há anos, será restaurada e reposicionada.
Ainda de acordo com a Seplan, que elaborou o projeto de revitalização, a ciclovia será mantida e o local vai ganhar uma nova iluminação. A licitação e execução das obras, previstas para o mês de novembro, ficará à cargo da Secretaria de Infraestrutura do município, com previsão de conclusão de cinco meses. A revitalização do local é aguardada por moradores, caminhantes e turistas, que veem no local um potencial para se tornar um novo ponto turístico da orla de João Pessoa.
José Cândido, morador do bairro de Manaíra, faz caminhadas regulares e passa todos os dias pela Praça de Iemanjá. Para o aposentado, o local é um diamante bruto abandonado pelo poder público. “Esse lugar deveria receber um trabalho de paisagismo, ambientação, ou seja, ser explorado turisticamente e também para o bem-estar daqueles que são daqui mesmo, como é o meu caso”, afirma o aposentado, que celebrou o anúncio da reforma. “Essa melhora representa mais serviço, mais comodidades para as pessoas, para os usuários. Vai fazer bem para a população e para o turismo e, consequentemente, para o comércio da cidade”, afirmou.
O local ermo, com pouca movimentação de pessoas, traz a questão da segurança como um tema sensível, e José Cândido concorda que esse resgate irá beneficiar, também, nesse sentido. “Essa área aqui é bem isolada, mas com iluminação, movimentação de pessoas, isso vai melhorar, com certeza. Deve trazer também fiscalização dos agentes de segurança pública”. A opinião é compartilhada por Azuil Pereira, morador do bairro de Cabo Branco e que também faz uso da orla para seus exercícios físicos diários.
“Principalmente à noite, é um local muito perigoso. Mas a partir do momento em que começar a ter fluxo de pessoas, com iluminação, quando se tornar um local agradável, essa insegurança vai diminuir” diz Azuil, que se mostrou ansioso pelo início e conclusão das obras de restauração da Praça de Iemanjá. “Comemoro toda a iniciativa para melhorar a qualidade de vida das pessoas que passam por aqui. Essa reforma é essencial e primordial, o local está totalmente abandonado. Então precisa sim que seja feito um trabalho para que dê qualidade de vida para as pessoas que transitam por aqui”, afirmou.
Entidades religiosas não querem que estátua permaneça no local
A revitalização do espaço é bem-vinda por moradores e turistas, mas de acordo com mãe Penha de Iemanjá, presidente da Federação dos Cultos Afro-brasileiros do Estado da Paraíba, a imagem de Iemanjá, danificada desde 2013, deve ser levada para um outro local. “Infelizmente eles querem deixar a imagem lá, mas nós que somos de religião de matriz africana, sabemos que não vai dar certo. Nossa proposta é que ela seja colocada na Praça dos Pescadores”. Para mãe Penha, o local é distante e de difícil acesso para os fiéis prestarem suas homenagens.
Mãe Penha teme que a estátua de Iemanjá seja, novamente, alvo de vandalismo e de intolerância religiosa. “Infelizmente a imagem já foi destruída outras vezes e deixar no mesmo local não vai fazer diferença, vão destruir novamente. Mesmo com câmeras, com vigilância, não vai adiantar”, diz a religiosa.
Em março deste ano, a Rede de Mulheres de Terreiro da Paraíba realizou um protesto em frente à Assembleia Legislativa da Paraíba, na Praça dos Três Poderes, com o objetivo de denunciar a intolerância religiosa e a depredação do patrimônio cultural e religioso dos povos de terreiro.
Na ocasião, o grupo solicitou a construção de uma nova estátua, feita de alumínio fundido, e que deveria ser colocada na Praça dos Pescadores. A ekedi Gorete Oyáladê, representante do Grupo de Mulheres de Terreiro Iyálodée da Rede de Mulheres de Terreiro, explicou. “Queremos trazê-la para a Praça dos Pescadores e fazer do local um marco do povo de matriz africana e de resgate da cultura africana e tradicional”, afirma Gorete.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de outubro de 2023.