No último domingo (3), mais de 3,17 milhões de candidatos, em todo o Brasil, compareceram ao primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. O número corresponde a 73,4% dos inscritos, o que indica uma porcentagem de 26,6% de faltosos, em âmbito nacional. Além disso, cinco mil participantes foram eliminados e outros 689 foram afetados por problemas logísticos.
Na Paraíba, havia 128.376 pessoas inscritas; o total de faltosos no estado, porém, não foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Para entender a repercussão dessa primeira parte do certame, que teve, inicialmente, provas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas, o Jornal A União ouviu a opinião de pessoas que o fizeram ou o analisaram.
Um dos assuntos que mais geram expectativa antes das provas é o tema da Redação. Neste ano, os participantes precisaram elaborar um texto dissertativo-argumentativo sobre os “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. A professora de Redação Sílvia Abrahão relembra que o tema de 2022 foi sobre a valorização dos povos tradicionais. Na avaliação dela, o deste ano foi pouco criativo, diante da similaridade abordada em um curto espaço de tempo. “Nesse sentido, achei que o Enem falhou. Embora o tema seja interessante e relevante, o exame perdeu a oportunidade de discutir outros temas também muito importantes, que poderiam ter vindo à tona”, analisa. Entre esses temas, ela menciona lei do bullying, mobilidade urbana, pessoas com deficiência, abandono paterno e abuso infantil.
Segundo Sílvia, quando se fala em Enem, o examinador convida o candidato a refletir sobre um problema social. É preciso discorrer sobre aquilo que não está funcionando e, ao fim da redação, trazer uma proposta de intervenção. Apesar de criticar a escolha do tema, ela enfatiza que a necessidade de valorização da herança africana fomenta uma série de possibilidades, no que se refere à cultura: música, história, linguagem, arte e culinária. No entanto, a sociedade tende a destacar os problemas vivenciados pelo povo negro ao longo da história: escravidão e pós-abolição. “Para fugir desse enfoque negativo, o aluno teria que abordar os impasses relacionados à ausência da incorporação de elementos da cultura africana no nosso cotidiano”, observa.
Para a estudante Ana Clara Melo, de 18 anos, que pretende cursar Medicina, o tema foi tranquilo, mas ela considera que existem assuntos tão ou mais pertinentes e necessários para serem discutidos no país. “Achei que seria algo sobre inclusão ou educação”, lamenta. Segundo ela, a prova de Ciências Humanas teve um nível médio de cansaço visual. “As questões não estavam tão longas, mas 90% delas faziam referência ao texto”, diz.
Para os próximos dias, a aluna pretende revisar os assuntos para a próxima etapa, que acontece no domingo que vem (10), mas vai diminuir o ritmo dos estudos. “O momento agora é de descanso, para ter tranquilidade na hora da prova”, argumenta.
Paratleta
A paraibana Silvana Fernandes, medalhista de bronze nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, foi destaque em uma questão da prova de Linguagens do Enem 2024, que abordou a sua trajetória. Silvana, que conquistou a medalha no taekwondo, categoria até 57 kg, agradeceu a menção, em uma rede social. “Estou muito feliz por esse reconhecimento. Mais uma vez, o nome de São Bento, na Paraíba, é levado de forma positiva para todo o país. Espero que os jovens tenham acertado a questão. Para mim, é motivo de orgulho ser lembrada como referência”, afirmou.
Ocorrências
A Operação Enem, da Polícia Militar da Paraíba (PMPB), não registrou nenhuma ocorrência grave, nos 55 municípios paraibanos em que o certame foi aplicado. O único caso aconteceu após o término das provas, em que um fiscal de prova, com mandado de prisão em aberto, foi conduzido à Central de Polícia de Campina Grande. A abordagem foi na área externa da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), no Bairro Catolé, por volta das 20h.
O esquema de segurança montado pela PM envolveu mais de 1,3 mil policiais e quase 200 viaturas, com atuação na escolta das provas até os locais de aplicação do exame. Além disso, os policiais militares ofereceram suporte nas áreas de concentração de pessoas, como paradas de ônibus e terminais de transporte.
No próximo domingo, a Polícia Militar realizará, mais uma vez, a escolta dos veículos da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que transportam as provas do exame, no intuito de garantir a inviolabilidade das provas.
Domingo
No segundo dia de provas do Enem, os estudantes terão de resolver 45 questões de Ciências da Natureza e 45 de Matemática. Na Paraíba, foram disponibilizados 374 locais de prova e 4.612 salas de aplicação, em 55 municípios. Os portões dos locais de prova, que podem ser conferidos no cartão do participante, estarão abertos a partir das 12h, fechando uma hora depois, no horário de Brasília. O tempo de prova será de cinco horas, das 13h30 às 18h30.
Para ter acesso à sala, o participante deve apresentar um documento oficial com foto. Além disso, é preciso levar caneta preta transparente — de preferência, duas, para garantir uma reserva, caso a primeira apresente alguma falha. O Inep também recomenda que o candidato esteja portando uma versão impressa do cartão de confirmação da inscrição.
As pessoas que faltaram por problemas logísticos ou doenças infectocontagiosas, como prevê o edital, podem pedir para fazer as provas nos dias 10 e 11 de dezembro. O prazo para solicitar a reaplicação, na página do participante, será de 11 a 15 de novembro.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 05 de novembro de 2024.