Seja por incentivar a cidadania crítica, por atividades práticas ou por gestos afetuosos, a memória de um adulto sempre reservará espaço aos professores que fazem a diferença na educação escolar e contribuem para que cada um encontre o seu caminho. Hoje, Dia do Professor, as vidas de João Paulo da Silva e de Marileide Silva são testemunhos de como a atuação em sala de aula pode transbordar do mero papel profissional e tornar-se uma inspiração para os alunos.
A inovação parece estar no DNA do professor de Biologia João Paulo, de 40 anos. Ele foi responsável por orientar os cinco jovens da Escola Cidadã Integral Técnica (Ecit) Jornalista José Itamar da Rocha Cândido, de Cuité, que venceram uma competição nacional de Tecnologia da Informação (TI) contra mais de 600 equipes de todo o Brasil. O grupo desenvolveu e apresentou, na ocasião, o projeto GreenTech, uma horta automatizada que aciona sozinha seu sistema de irrigação quando o nível de umidade do solo está baixo. Além disso, por meio de uma ferramenta digital, o agricultor adepto do serviço pode controlar a irrigação de sua plantação e receber dados relativos a fatores como solo e clima, assim como esclarecer dúvidas.
Ao lado de João Paulo, em meio ao desenvolvimento do GreenTech, o estudante Pedro Vieira dos Santos, do 3o ano de Informática, confessa ter feito descobertas importantes sobre si mesmo. “Descobri o que vai ser o meu futuro: a programação. Sempre fui apaixonado por tecnologia, desde pequeno, mas, com o projeto, me interessei a ponto de virar noites fazendo coisas. Nunca tinha pensado que faria algo do tipo, porque sempre fui um aluno preguiçoso”, revela o jovem de 18 anos, destacando o apoio decisivo de seu professor: “Ele sempre busca trazer para a escola projetos de metodologia STEAM [sigla em inglês para o método de ensino que integra conceitos das áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática]. Ele também encoraja os outros professores a fazerem projetos assim”.
De fato, a Ecit cuiteense possui, atualmente, seis projetos de inovação e de TI em andamento, envolvendo não somente alunos de Informática, mas de cursos como Administração e Nutrição. Para João Paulo, o diferencial da escola onde trabalha é a forma como se pensa a educação nela. “A gente busca sempre fazer com que os estudantes apliquem o conhecimento do curso. A temática principal é dentro da Biologia, mas busco incentivar a parte técnica também nos projetos”, explica.
O professor defende que, hoje em dia, os docentes devem adaptar sua maneira de ensinar à atual realidade dos alunos. “Vejo o papel do professor como agente de mudança e transformação. Antigamente, no meu tempo, não era fácil acessar o livro e a informação, então o professor era esse elo. Hoje, o aluno já tem o conhecimento, acessa qualquer coisa pelo celular. Então, o nosso papel é fazê-lo utilizar esse conhecimento que tem na mão dele. Esses projetos são justamente para isso”, reflete João Paulo, argumentando que essa postura traz um novo significado ao processo de ensino e aprendizagem.
Com mais de 30 anos de carreira, professora defende empatia
Em outro ponto da carreira, está Marileide Silva, professora de Ensino Fundamental que já dedicou 32 de seus 50 anos de vida à educação. Embora esteja prestes a se aposentar, ela quer encerrar sua trajetória profissional com a mesma dedicação que sempre manteve à função. “A cada ano que passa, fico mais encantada com esse mundo. Ainda sou daquelas que bota roupinhas infantis e pula corda. Assim, tento me doar e amo cada aluno, verdadeiramente”, salienta a docente.
A retribuição pelo esforço e pela afetuosidade da professora chega até mesmo anos após a convivência diária. Exemplo disso é o convite que ela recebeu para participar de uma formatura universitária. Essa foi a forma que Ana Carolina da Silva, de 21 anos, encontrou para prestar gratidão a Marileide, pelo que ela fez em sua formatura no Ensino Fundamental: à época, a família da estudante não podia arcar com as despesas da comemoração, mas a professora não deixou que a menina ficasse de fora.
“Ela me ajudou com vestido, cabelo, maquiagem. Arrumou tudo. Minha mãe estava trabalhando e quem compareceu foi meu irmão e ela [Marileide]”, lembra Ana Carolina, hoje estudante de Engenharia Civil. “Ela já está convidada para quando eu me formar. Faço questão de tê-la junto comigo”, diz a jovem, a dois anos de concluir seu curso.
Para a professora, o segredo de ser uma profissional marcante na vida das crianças está nos detalhes cotidianos da sala de aula. “Os pormenores fazem toda a diferença. A maneira com que você realiza seu trabalho, o toque que você dá a ele, faz a diferença. A gente acha que não, mas o aluno observa você”, pontua.
Em suas mais de três décadas de trabalho, Marileide também atuou com o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e no Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), além de ter sido gestora de uma escola, mas garante que a sala de aula é seu “hábitat natural”. “A gente leva para a profissão aquilo que a gente leva de humano. Na minha profissão, vou ser o espelho daquilo que sou na verdade”, avalia a professora, definindo a empatia como uma das qualidades fundamentais para a carreira docente.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 15 de outubro de 2024.