por Juliana Cavalcanti*
Os moradores do bairro de Manaíra em João Pessoa realizaram, esta semana, várias manifestações contra a obra de mobilidade e infraestrutura proposta pela Superintendência de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob-JP) no entorno da quadra de Manaíra. Pela manhã, uma comissão formada pelos habitantes da área se reuniu com os representantes da Semob e o vice-prefeito da capital, Léo Bezerra. No entanto, não houve consenso.
Ao fim da reunião, a Semob-JP comprometeu-se a estudar uma alternativa que será apresentada em um novo encontro previsto para hoje. De acordo com o arquiteto e urbanista Flávio Tavares, não foi possível chegar a um acordo, pois o órgão quer realizar essa abertura de qualquer jeito.
Flávio é morador do bairro, faz parte da comissão e afirma que os moradores aceitam outras soluções para a melhoria da mobilidade e tráfego de veículos, desde que não comprometa a praça. “Essa reunião serviu para apresentar o que a comunidade havia definido, na terça-feira, para o espaço. A população entende que não deve haver abertura da Avenida Cajazeiras, partindo a quadra de Manaíra. Essa é uma premissa diferente do que propõe a Semob, que apenas quer negociar em cima da possibilidade de ter a via passando no meio”, esclareceu.
O ato dos moradores em defesa da quadra de Manaíra ocorreu na Avenida João Maurício em frente à quadra. A manifestação teve início às 18h e teve o objetivo de trazer maior visibilidade para a causa. Esse foi o terceiro movimento voltado a impedir a execução do serviço.
“O projeto não propõe a demolição da quadra, já que a quadra, em si, ainda permanece. Mas, pretende fazer uma abertura no meio da praça ‘Quadra de Manaíra’. Com uma via no meio, a praça será destruída. A Semob está inegociável e quer fazer a via de todo jeito. Achamos que não é preciso ter a via”, defendeu o arquiteto.
A população pede que a área seja totalmente requalificada, aumentando os espaços para pedestres, além da implantação de novos mobiliários urbanos (bancos, lixeiras, iluminação) e paisagismo adequado. Nesse sentido, são contra a remoção de árvores e maior espaço para os carros. “A Prefeitura quer destruir a praça para a abertura de uma via de passagem de veículos motorizados. Os moradores discordam do projeto que visa destruir uma importante área de convivência entre cidadãos, palco de atividades esportivas, saúde e inclusão social”, declarou em nota a comissão.
Essa questão é reforçada pela arquiteta e urbanista Jéssica Lucena que auxiliou a comissão durante as negociações com a Prefeitura. “A comissão de seis moradores participou da reunião com a Semob, representando as pessoas das manifestações que são contra essa intervenção. Elas querem a qualificação do espaço e não a sua destruição”, acrescentou.
Ela explica que as duas quadras e a praça compõem um espaço de convívio para idosos, crianças e que inclui capoeira, e atividade física. “A população gostaria que a Prefeitura ao invés de abrir o espaço para carros, que ele fosse qualificado para a saúde dos idosos, pois é lá que eles se reúnem diariamente em vários horários do dia”, comentou.
Ainda segundo a comissão, qualquer intervenção urbana que altere ou comprometa os espaços públicos, deve ser feita com diálogo com os moradores do entorno, bairro e cidade. “As cidades existem para as pessoas e não para os carros. Essa atitude demonstra um retrocesso da atual gestão municipal no que diz respeito aos mecanismos de participação social e popular previsto em vários instrumentos jurídicos legais. A Lei Orgânica do Município de João Pessoa e o Estatuto das Cidades, só para citar dois exemplos”, afirma a nota.
“Serviço antiquado e desnecessário”
A intervenção no entorno da Quadra de Manaíra estava prevista para iniciar no último dia 8. O anúncio da obra nas redes sociais da Semob-JP foi recebido com várias críticas, tais como: “Deixa a praça em paz!” ; “Absurdo! Um espaço que tem vida para além do carro será assassinado em prol de nada!”; “Que obra antiquada! O que foi pensado para as pessoas que vão perder o espaço de permanência?”; “Retrocesso” e “Desnecessário!”.
Na terça-feira pela manhã, um grupo protestou no local contra o serviço. Segundo Flávio Tavares, esse foi um ato de resistência mais espontâneo, pois a equipe da Prefeitura chegou às 6h da manhã com a máquina para iniciar a demolição. Então começou a mobilização dos moradores e empresários do entorno para evitar os trabalhos.
“As obras começaram sem avisar e aí vieram tratores, caminhões, trabalhadores e a população teve que se mobilizar na hora.Os vizinhos foram chamando mais pessoas para intervir. De manhã conseguimos paralisar e negociamos até meio-dia”, descreveu o morador.
Às 12h30 o superintendente de Mobilidade Urbana da Capital, George Morais começou as negociações. Durante a tarde, a comissão de moradores se reuniu com o gestor. O objetivo do encontro, segundo anunciado pela Semob-JP, foi apresentar o projeto de mobilidade, infraestrutura e paisagismo para a área.
Na oportunidade, os moradores opinaram sobre a intervenção e sugeriram adequações para manutenção dos espaços. Estiveram presentes os técnicos e diretores da Semob-JP, além dos vereadores Carlão pelo Bem e Thiago Lucena. Na ocasião, George Morais ressaltou que foram apresentadas as mudanças para a localidade e a equipe técnica iria analisar as sugestões indicadas pela comissão.
“Compreendemos a importância que a quadra de Manaíra tem para as famílias que moram no entorno ou a visitam e fazemos questão de deixar claro que a obra não vai abalar esta afetuosidade que existe no local. Porém, compreendemos que será mais um espaço de compartilhamento na cidade, onde pedestres e veículos estarão integrados, desta forma, estaremos promovendo melhorias para o bem coletivo e segurança viária”, declarou o superintendente em texto divulgado pela Semob-JP.
Em outra reunião, os moradores discutiram o que seria proposto nos próximos encontros com a Semob-JP. As considerações do órgão acerca da intervenção da quadra de Manaíra incluem: piso elevado intertravado para passagem apenas de veículos de pequeno porte.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 10 de março de 2022