Menos de um mês para o início d’O Maior São João do Mundo integrantes de quadrilhas juninas de Campina Grande correm contra o tempo para os ajustes em coreografias, figurinos, músicas e adereços. Mais do que apresentarem um grande espetáculo, elas sabem da responsabilidade e a chance que têm de conquistar os dois principais títulos de concursos em disputa: o Paraibano e o da Confederação Brasileira de entidades e Quadrilhas Juninas (Confebraq). Juntos eles vão distribuir uma premiação de R$ 116 mil entre as cinco primeiras colocadas, conforme revelou a Associação das Quadrilhas Juninas de Campina Grande (Asquaju-CG).
Isso justifica a dedicação dos integrantes das dez principais quadrilhas da cidade, que se preparam desde outubro do ano passado. São cerca de cinco horas de ensaios, sempre no período da noite, já que todos trabalham ou estudam durante o dia. Muitas das dançarinas ainda têm a responsabilidade de cuidar de filhos e da casa.
Além disso, os integrantes ainda encontram tempo para tentar angariar recursos que custeiem as despesas com figurinos, sapatos, cabeleireiros, bandas e gravadoras. Para que essas apresentações possam ser colocadas em palco, elas estão gastando, em média, mais de R$ 80 mil, cada uma. Só com os vestidos das dançarinas, estão saindo em média por R$ 650. Já a vestimenta dos homens o custo tem ficado em torno R$ 400.
A alternativa encontrada para essas despesas foi realizar bingos, rifas, doações e vendas das roupas usadas pelos dançarinos nas edições anteriores para grupos de outros estados do Nordeste. “Fazemos de tudo para garantir que a nossa quadrilha possa se apresentar. Além disso, a Prefeitura deve nos dar uma ajuda, cerca de 20% do custo geral”, disse o coordenador de mídia e secretário da “Arraial de Paris”, Matheus Gomes da Silva. Essa quadrilha junina é uma das mais tradicionais da Rainha da Borborema.
Do bairro Cuités, ela se “arruma” para trazer um espetáculo único e com segredos que serão revelados somente na apresentação. Essas surpresas que a Arraial promete revelar com os passos ritmados dos seus dançarinos também vêm com cheiro e gosto de uma das bebidas mais tradicionais do brasileiro: “Quente como o inferno, amargo como a dor, puro como um anjo, doce como o amor”. O café será o tema da quadrilha esse ano. “Ele traz uma história bem antiga, remontando à época dos grandes cafezais, mas também em homenagem ao café da dona Marlene, que é famosa entre as quadrilhas daqui por todo trabalho com os grupos como costureira e incentivadora”, revelou, informando que a quadrilha, que tem 68 dançarinos, vai gastar cerca de R$ 85 mil.
Mesmo com o corre corre, ele garante que tudo está quase pronto. “Hoje temos basicamente tudo concluído. A banda está gravando as últimas músicas e os adereços estão sendo montados. A produção de roupas se encontra a todo vapor e a nossa perspectiva é que tudo seja concluído até o dia 20 de maio. Depois desse dia, é ensaio direto já com adereços para pegar o tempo do concurso”.
A presidente da Asquaju-CG, Maricélia Marques informou que o ritmo nas casas de costureiras, garagens, Sociedade Amigos de Bairro (SABs), onde acontecem os ensaios é intenso. “Nosso momento está chegando, o trabalho, a agonia e o estresse são grandes, mas sabemos da importância que é para nós e a cultura do Nordeste ter as quadrilhas prontas, lindas e com um grande espetáculo”, disse. Ela também coordena a junina “Escurrega Mai Num Cai”, que tem mais de 30 anos de fundação. No próximo sábado os integrantes farão o lançamento do tema 2023, com atrações culturais, na sua sede do bairro da Palmeira. Eles vão aproveitar para também realizar mais um bingo com cartelas vendidas a R$ 2 para custear as despesas. “É chegada a hora de viver um lindo sonho. Só quem é quadrilheiro sabe o quanto é gratificante”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 7 de maio de 2023.