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Central de Transplantes registrou a última captação de múltiplos órgãos nesse sábado, no Hospital de Trauma de CG

Quatro doações em menos de 20 dias

publicado: 20/12/2022 10h33, última modificação: 29/12/2022 15h05
Doação de órgãos Foto Secom PB.jpg

Jovem de 21 anos que estava internado, em Campina Grande, doou as córneas, os rins e o fígado; Central de Transplantes da Paraíba ainda possui na fila de espera por órgãos 244 pessoas - Foto: Foto: Evandro Pereira

Em um intervalo de menos de 20 dias a Central de Transplantes da Paraíba registrou quatro doações de múltiplos órgãos no estado. A última ocorreu, nesse sábado, no Hospital de Trauma de Campina Grande, onde o doador, de 21 anos, já estava internado vítima de um Acidente Vascular Encefálico Hemorrágico.

O processo teve início após a realização dos três exames exigidos para o fechamento do protocolo de morte encefálica. Para dar sequência, a família passou por uma entrevista com a equipe de psicólogos e assistentes sociais da Central de Transplantes, e a autorização foi concedida.

“A entrevista familiar para doação de órgãos deve ser feita sempre por um profissional capacitado. Porque a família, naturalmente, vai trazer todas dúvidas que ela tiver sobre o processo nesse momento. Então, a presença de um profissional que traga informações claras, precisas e objetivas sobre a doação de órgãos é decisiva para o desfecho dessa entrevista”, esclarece a chefe do Núcleo de Ações Estratégicas da Central de Transplantes, Rafaela Dias.

Foram doados o fígado, os rins e as córneas, todos para receptores paraibanos. O fígado foi destinado a um homem de 53 anos, o rim direito para um paciente de 60 anos e o rim esquerdo para outro homem de 32 anos. As córneas foram levadas para análise no Banco de Olhos para posterior transplante.

“São muitas vidas que a gente consegue salvar quando uma pessoa aceita doar os órgãos dos seus familiares”, complementa Rafaela.

Em 2022, a Paraíba já registrou a realização de 290 transplantes. Foram 238 de córneas, dois de coração, 28 de rins, 19 de fígado e três de medula. Ainda aguardam na fila pela doação de córnea 250 pessoas, três pessoas esperam por um coração, 14 aguardam um fígado e 177 esperam um transplante renal.

Equipe multidisciplinar atua no procedimento

por Mayra Santos*


A Central de Transplantes é formada por uma equipe de 19 pessoas com multiprofissionais como enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e médico que atuam no processo de captação de órgão, formalização da autorização da família, bem como a o acompanhamento aos parentes do doador.

A Organização à Procura de Órgãos (OPO), que faz parte da Central de Transplantes, atua dentro das UTIs, não só dentro do Hospital de Trauma como de outros hospitais da capital que possuam UTI, à procura de pacientes que tenham o perfil de um potencial doador.

De acordo com Kallyne Souto, coordenadora multiprofissional da OPO, o potencial doador são pacientes em estado grave, em Glasgow 3 – é uma escala em que os reflexos e resposta motora do paciente não possui mais resposta, indicando que está com alguma lesão neurológica grave, tendo sido já avaliado pelo neurologista. Para isso, são feitos exames como a tomografia de crânio para comprovar o estado do paciente.

Ela informou que os transplantes são realizados no Hospital Metropolitano, que é referência em transplante cardíaco. Além do mais, existem parcerias com instituições particulares como o Hospital Nossa Senhora das Neves e Unimed, entretanto, todo o procedimento é totalmente custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Para se tornar um doador de órgão, não é preciso mais colocar no documento de identidade. Kelly Souto explicou que basta em vida externar para família, uma vez que a decisão será tomada pelos parentes de primeiro grau, são eles que têm esse poder de decisão. Com a permissão concedida, a autorização é formalizada, por meio de um documento, sendo notificado à central estadual que notifica também à central nacional.

A Central de Transplantes também realiza ações educativas como palestras em colégio, hospital, com a finalidade de difundir essa importância da doação de órgão, a fim de quebrar esse tabu em relação à doação de órgão e a desmistificar, estando de portas abertas a quem interessar.

A Paraíba é destaque
Em 2019, a Paraíba tinha o pior desempenho do Brasil, depois de algumas mudanças de organização, o estado hoje é destaque no Nordeste como o que mais realiza doação e transplante de órgão, conforme a chefe do Núcleo de Ações estratégicas da Central de Transplante, Rafaela Carvalho.

A Paraíba, inclusive, já foi premiada pelo Ministério da Saúde como o estado que mais promoveu doação de órgão em 2020. Com relação à doação de órgãos de criança, é o quinto estado do país a realizar transplantes.

“Nosso estado vem nessa perspectiva de crescimento no que se refere à doação e transplante de órgão, além disso, este ano, fomos contemplados para participar do Simpósio Internacional de Transplantes para compartilhar nossa experiência, mostrando como conseguimos sair do ponto zero para um dos estados que mais se destaca nesse quesito”, informou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 20 de dezembro de 2022.