Dois empréstimos bancários que somam um valor de R$ 13 milhões, além de uma dívida com fornecedores que chegam a quase R$ 3 milhões. Esse é o saldo deixado pelo padre Egídio de Carvalho, ao entregar o cargo de diretor do Hospital Padre Zé, após 12 anos à frente da unidade. As informações foram repassadas pelo novo diretor do hospital, padre George Batista, durante coletiva de imprensa realizada na manhã de ontem. Participaram da coletiva, o arcebispo metropolitano da Paraíba, Dom Manoel Delson e padre Luiz Júnior, secretário-executivo de Ação Social Arquidiocesana (ASA).
Dom Delson resumiu a situação como uma traição. “Sinto uma tristeza muito grande. Da forma que as coisas eram apresentadas, nos passavam uma segurança de que o trabalho estava sendo realizado da forma correta, tanto que os projetos eram aprovados e renovados. Nunca recebi queixas de atraso de pagamentos dos funcionários ou falta de medicamentos. Estou envergonhado e chocado. Nos sentimos traídos”, disse Dom Delson durante a coletiva.
"O serviço aqui é excelente. Mesmo tendo havido desvios, é importante que as pessoas doem, porque muita gente precisa do hospital" Maria de Souza
De acordo com Dom Delson, assim que tomou conhecimento da questão do roubo de celulares doados ao Hospital Padre Zé, ainda em setembro. “Logo após vieram as acusações contra o padre Egídio e tomamos a decisão de pedir seu afastamento da gestão do hospital e das funções eclesiásticas.”, disse o arcebispo, destacando que o padre George Batista foi chamado para assumir a função. “Estamos correndo para que o hospital se mantenha, que continue atendendo essa demanda de pessoas que precisam desse serviço. O Hospital Padre Zé não é uma obra que pertence à Arquidiocese. Ele pertence à cidade de João Pessoa e ao estado da Paraíba.”
Padre George, que assumiu a direção do Hospital Padre Zé, informou que os custos para manter o funcionamento da unidade estão na faixa de R$ 1,3 milhão por mês, sendo que o SUS envia cerca de R$ 900 mil. “Existem dois empréstimos, feitos pelo antigo diretor, na Caixa Econômica Federal e no Banco Santander, que juntos, chegam a quase R$ 13 milhões”, disse o diretor, afirmando que o empréstimo da Caixa, em torno de R$ 600 mil, foi feito em 2022, e o do Santander, cerca de R$ 12,3 milhões, aconteceu em junho deste ano. “Para onde foi esse dinheiro? A Força-Tarefa está investigando e no tempo devido, irá se prenunciar”.
Além desses empréstimos, há uma dívida de cerca de R$ 3 milhões com fornecedores. Sobre a queda nas arrecadações de donativos, o padre George informou que ainda é cedo para responder. “Estamos há 15 dias na direção. Nossa luta atual é estancar a sangria, extirpar do hospital todas as pessoas que colaboraram com esses crimes e deixar claro que em momento algum, fomos coniventes com esse crime. Vamos caminhar passo a passo, seguindo as orientações das autoridades competentes”, disse.
Obra social
Inaugurada em março de 1935, a obra social do Hospital Padre Zé contempla apoio às pessoas vivendo em situação de rua e atendimento a pacientes após alta hospitalar, com serviços de médicos, enfermagem, psicologia e assistência social. A estrutura da unidade contempla uma equipe de 195 funcionários, entre médicos, enfermeiros, técnicos, e auxiliares administrativos e de serviços gerais.
O local possui ambulatório, atende baixa e média complexidade, realiza exames de rotina e ambulatoriais, com ultrassom, eletrocardiograma, raio-X, tomografia e fisioterapia. Só no primeiro semestre de 2023, o Hospital Padre Zé registrou 561 internações, com 1.289 pacientes atendidos no total.
"O hospital não pode fechar, mas deve ocorrer uma grande mudança para não deixar isso acontecer novamente, porque o hospital atende as pessoas carentes" Augusto Abrantes
Uma dessas pessoas atendidas é a mãe de Adriana Maria de Souza, que sofreu um aumento de pressão arterial e estava em observação. "O serviço aqui é excelente, minha mãe está sendo muito bem atendida, já foi medicada. Mesmo com essas questões de desvio, é importante que a sociedade continue fazendo doações. Não é porque uma pessoa errou que todas devem pagar. A população precisa e minha mãe precisa desse hospital", disse.
Augusto Abrantes, estava acompanhando um paciente em fisioterapia, concorda que o hospital merece continuar recebendo o apoio da sociedade, mas faz uma ressalva. "O hospital não pode fechar, mas o que deve ocorrer é uma grande mudança, uma nova administração que não deixe isso acontecer novamente e não deixe que o Hospital Padre Zé pare de atender as pessoas carentes".
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de outubro de 2023.