A Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio do Núcleo de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST/Aids), marcou o Dia Estadual de Luta contra o HTLV com a realização da oficina “HTLV: Saindo da Invisibilidade”, no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa), em João Pessoa. O evento, que contou com a presença de representantes do Ministério da Saúde, Fiocruz, Centro de Testagem e Aconselhamento e Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids, Laboratório Central da Paraíba (Lacen-PB), Hemocentro, ONGs e várias organizações da sociedade civil, aconteceu durante todo o dia de ontem.
A oficina teve o objetivo de informar a população sobre o vírus e como se prevenir contra ele. Da mesma família do HIV, o HTLV causa uma doença silenciosa e incurável. Pode ser transmitido por relação sexual desprotegida, transfusão de sangue, compartilhamento de seringas e agulhas e também de mãe para filho, durante a gestação ou a amamentação. Na sua forma mais grave, pode afetar o sistema neurológico, desencadeando doenças como mielopatia associada a HTLV, leucemia e outras complicações.
A Paraíba tem desenvolvido ações para retirar o vírus da invisibilidade. Uma delas já está dando resultados: um projeto-piloto para a coleta de amostras em doadores de sangue do Hemocentro e em gestantes de alto risco atendidas na Maternidade Frei Damião. “Em menos de um ano de implantação do projeto, já foram diagnosticadas 15 pessoas com HTLV na Paraíba, entre elas, uma gestante, que vem sendo acompanhada por uma equipe multiprofissional”, disse Joana Ramalho, chefe do Núcleo de IST/Aids da SES.
Dentro desse projeto, os doadores de sangue e as gestantes são acompanhados pela rede de cuidados do Complexo de Doenças Infecciosas Dr. Clementino Fraga. “Enquanto o exame não é oferecido gratuitamente, o Lacen adquiriu testes sorológicos para realizar em gestantes de alto risco e doadores de sangue, visando barrar a transmissão do vírus”, explicou Joana.
De acordo com a médica e consultora técnica do Ministério da Saúde, Mayra Aragon, o HTLV vai ser inserido nas políticas públicas de enfrentamento a IST/Aids. Uma delas, criadas para mães que testarem positivo, por exemplo, prevê o direito à fórmula infantil para alimentar o bebê e à medicação para deixar de produzir leite, na hora do parto. “Além disso, foi aprovada a testagem para HTLV em gestantes, pelo SUS. Isso está em processo de implementação, em todo o país”, acrescentou Mayra.
Em casa
Adijeane Oliveira, coordenadora da Associação HTLVida, de Salvador, na Bahia, foi infectada com o vírus dentro de casa. Segundo conta, quando o pai dela foi doar sangue, descobriu que portava o HTLV — e, consequentemente, toda a sua família havia sido acometida. Ela tinha 14 anos de idade, quando veio a descoberta. Nela, o vírus desencadeou a mielopatia associada a HTLV (doença da medula espinhal), o que a tornou cadeirante.
Graças ao acesso à informação sobre o vírus, a sua família conseguiu barrar a transmissão. “Meu sobrinho de dois anos não nasceu com HTLV. Devido à informação e ao acompanhamento médico, durante o pré-natal, ele nasceu por cesariana e não recebeu amamentação”, disse.
No evento da Faepa, Adijeane falou sobre os avanços da política pública na prevenção ao HTLV, em Salvador. Ela conta que a associação dialoga com a gestão estadual desde o 16o Simpósio Internacional sobre HTLV no Brasil, realizado na Paraíba, em outubro do ano passado. “A partir de então, a gente vem criando possibilidades sobre o que é possível instituir, em nível estadual. Há interesse em avançar cada vez mais para conter a transmissão do vírus e melhorar a qualidade de vida dos portadores”, afirmou.
Meu sobrinho não nasceu com HTLV. Devido à informação e ao controle médico, ele nasceu por cesariana e não recebeu amamentação -- Adijeane Oliveira
Prevenção
Até o momento, não há vacina ou tratamento para a infecção causada pelo HTLV. Portanto, a ênfase recai na prevenção e controle, visando evitar suas diversas formas de transmissão. Como se trata de uma infecção sexualmente transmissível (IST), deve-se usar preservativo; fazer exames periodicamente; e não compartilhar seringas, agulhas ou outros objetos cortantes. A amamentação também está contraindicada, recomendando-se o uso de inibidores de lactação e de fórmulas lácteas infantis.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de julho de 2024.