Para aumentar a imunidade, ter mais disposição, dar mais vida aos cabelos e à pele. Nos balcões das farmácias, uma infinidade de vitaminas e suplementos alimentares prometem esses e outros benefícios. No entanto, o uso indiscriminado e sem orientação médica e nutricional pode causar um efeito inverso, intoxicação e até causar danos a órgãos como rins e fígado.
A médica nutróloga, Thaís Fontinele explica que o uso de suplementos e vitaminas inclui desde o tratamento de deficiências nutricionais específicas até a prevenção de doenças. A suplementação de vitaminas e minerais deve ser considerada apenas quando há uma deficiência diagnosticada, evitando o risco de toxicidade (excessos de nutrientes) ou desequilíbrio nutricional. Por isso, é essencial o acompanhamento médico antes de iniciar qualquer suplementação.
“Antes de iniciar a suplementação, é fundamental a realização de uma avaliação médica, incluindo exames de sangue para verificar deficiências nutricionais. Com base nos resultados, o médico nutrólogo poderá recomendar a suplementação adequada, ajustando as doses e o tempo de uso conforme necessário”, afirma a médica.
Ela ainda alerta que a utilização sem critério de vitaminas pode ter várias repercussões negativas à saúde, como excesso de nutrientes tóxicos, interações prejudiciais com medicamentos e desequilíbrios nutricionais. A médica reforça que o uso de suplementos sem orientação médica é amplamente desaconselhado.
Além disso, o uso dos suplementos sem orientação pode gerar sobrecarga hepática ou renal, gerando danos à saúde. A nutricionista Sarah Mendonça pontua que podem ocorrer possíveis quadros de hipervitaminose devido à intoxicação, o que pode acarretar sintomas de visão embaçada, redução de apetite, perda de peso, danos na pele, dentre outros.
A auxiliar administrativa Danúbia Henrique, de 36 anos, suplementa diariamente 11 diferentes tipos de vitaminas ou substâncias. A prescrição foi feita por médicos, há cerca de três anos, quando ela recebeu diagnóstico de Tireoide de Hashimoto e câncer.
Atualmente ela utiliza vitamina D, vitamina C, vitamina B12, ômega, magnésio, zinco, cálcio, cisteina, cistina, biotina e piridoxina. “Fez toda a diferença no meu processo pós-câncer”, afirma. Danúbia faz exames para acompanhamento e avaliação da suplementação a cada seis meses.
A nutricionista Sarah Mendonça acrescenta que o uso da suplementação deve ser iniciado após avaliação clínica física (avaliação da saúde da pele, unha, cabelos, olhos, língua, perda de peso) sinais e sintomas (cansaço, queda de cabelo, dor abdominal, sono irregular) e avaliação de exames bioquímicos que conferem carências nutricionais ou patologias em órgãos que precisam ser tratados.
A última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), relativa ao período de 2017 a 2018, mostrou que 9,2% das pessoas usaram pelo menos um suplemento alimentar. Esse índice sobe para 41% entre as mulheres idosas, que informaram em maior proporção o uso de suplementos com cálcio (21,3%) e com vitaminas (19,5%). O mesmo estudo apontou que cerca de 98% da população brasileira não ingere a quantidade ideal de vitaminas por dia.
Dieta equilibrada não garante os nutrientes
Os especialistas afirmam que a melhor forma de obter os nutrientes necessários é através de uma dieta equilibrada e variada, que inclua uma ampla gama de alimentos saudáveis. A médica nutróloga Thais Fontinele explica que a composição exata de uma dieta diversificada, equilibrada e saudável varia de acordo com as características individuais de cada pessoa, a exemplo de idade, sexo, estilo de vida e grau de atividade física, além do contexto cultural, alimentos disponíveis localmente e hábitos alimentares.
“Muito além da prevenção de deficiências de nutrientes, uma alimentação saudável ajuda a proteger contra as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre elas diabetes, doenças cardiovasculares, AVC e câncer. No entanto, os princípios básicos do que constitui uma alimentação saudável permanecem os mesmos para todos: consumir ampla variedade de frutas e vegetais coloridos, incluir fontes de proteínas magras (peixe, frango, carnes magras, ovos), preferir grãos integrais e optar por gorduras mais saudáveis (azeite, abacate, nozes e sementes)”, orienta a médica.
Apesar de uma dieta equilibrada, a nutricionista Emanuelle Henrique destaca que os nutrientes mais comuns que as pessoas podem não obter em quantidades suficientes em suas dietas incluem vitamina D, cálcio, vitamina B12, ferro, ômega-3 e fibras. Ela ressalta que existem comprovadamente benefícios ao tomar suplementos regularmente, mesmo se não houver deficiências nutricionais aparentes.
Exemplos disso são o Ômega-3, com benefícios comprovados na saúde cardiovascular; probióticos, que são bactérias benéficas podem ajudar a manter um equilíbrio saudável da flora intestinal, promovendo uma digestão adequada e fortalecendo o sistema imunológico; suplementos de colágeno, importante para a saúde da pele, cabelos, unhas e articulações. “A suplementação com peptídeos de colágeno verisol pode ser benéfica para pessoas que desejam melhorar a elasticidade da pele ou o colágeno tipo 2 para lidar com problemas articulares”, explica Emanuelle.
Na lista ainda estão os multivitamínicos, que algumas situações, como dietas restritivas ou restrições alimentares específicas, podem garantir que o corpo obtenha uma ampla gama de nutrientes essenciais. Além disso, ao suplementar o Óxido Nítrico (NO) os benefícios são o relaxamento dos vasos sanguíneos e melhora no fluxo sanguíneo. Segundo a nutricionista, suplementos de NO podem ser benéficos para atletas e pessoas que buscam melhorar o desempenho físico e a saúde cardiovascular.
Uso de vitaminas varia de acordo com a faixa etária de cada pessoa
À medida que envelhecemos, as necessidades nutricionais também podem mudar. Os idosos, por exemplo, podem requerer suplementos de vitamina B12 devido à diminuição da absorção, enquanto durante a infância é crucial garantir uma ingestão adequada de ferro para prevenir a anemia, levando em consideração a fase de crescimento.
A nutricionista Emanuelle Henrique explica que com o início da menstruação, as adolescentes podem ter uma necessidade aumentada de ferro devido à perda de sangue menstrual, e é importante avaliar seus níveis para prevenir deficiências. Já durante a gravidez, as mulheres geralmente necessitam de suplementação prévia de ácido fólico, ferro e cálcio adicionais para apoiar o desenvolvimento fetal e a saúde materna.
“Também é importante considerar a vitamina D, que é essencial para a saúde óssea e pode ser necessária em quantidades maiores em idades avançadas. Devido à perda de força e massa muscular podemos avaliar a introdução da creatina para esse fim. Todas essas recomendações devem ser sempre personalizadas e baseadas em avaliações individuais de saúde e da dieta. Por isso é tão importante que um profissional faça uma avaliação para determinar as necessidades específicas de cada faixa etária e situação”, explica.
A médica nutróloga Thaís Fontenele reforça que há vitaminas e minerais cujas necessidades variam de acordo com a faixa etária e o sexo. Além do ferro, ela explica que as crianças também necessitam de cálcio e vitamina D para desenvolvimento ósseo adequado. Já mulheres após a menopausa podem necessitar da suplementação de cálcio e vitamina D para reduzir o risco de osteoporose.
“E à medida que envelhecemos, a absorção de certos nutrientes pode diminuir. Portanto, os idosos podem necessitar de suplementação de vitamina B12, vitamina D e cálcio para manter a saúde óssea e prevenir deficiências. É importante ressaltar que suplementação deve ser determinada com base em avaliação médica e exames de sangue para identificar deficiências específicas para cada indivíduo”, alerta a médica.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 17 de setembro de 2023.