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Surto de coceira é causado por mariposas

publicado: 09/12/2021 09h09, última modificação: 09/12/2021 09h09
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por Ana Flávia Nóbrega*

Após semanas de estudo, dermatologistas que integram a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) chegaram ao fator que motivou o surto de coceira e lesões cutâneas em Pernambuco, com casos em investigação também na Paraíba. A hipótese é de que os casos tenham sido motivados por uma espécie de mariposa, Hylesia.

A espécie se reproduz nesta época do ano e, por isso, estão presentes em maior número. A Hylesia é causa de epidemias de dermatites em vários pontos do país, quando a mariposa voa, em contato com a luz, cerdas corporais ficam no ar ou superfícies no geral, em roupas no varal, por exemplo. A espécie também costuma penetrar em ambientes domésticos e, ao se debaterem contra focos de luz para saírem, também liberam cerdas minúsculas que penetram a pele humana, causando dermatite intensa. As cerdas puderam ser observadas na pele e exames realizados em pacientes, vistos com clareza, segundo os pesquisadores.

Além da inflamação inicial, os estudos apontam ainda para a probabilidade de formação de granulomas em fases posteriores, uma inflamação que se desenvolve como um nódulo na pele. A dermatite, por tanto, permanece por dias e até semanas, devido à permanência das cerdas da mariposa (“flechettes”) na pele.

O trabalho de pesquisa realizado pelos dermatologistas Cláudia Ferraz e Vidal Haddad Junior permitiu descartar várias hipóteses levantadas para explicar a origem do surto, entre elas a intoxicação por ivermectina, escabiose (sarna), picadas de insetos e outras.

“A hipótese de escabiose era absurda, pois o tipo de transmissão é outro, a distribuição e aspecto das lesões cutâneas eram distintos e nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame direto e exames histopatológicos”, explica a nota técnica assinada pelos especialistas da SBD. A partir da confirmação, o tratamento é feito com foco na inflamação com corticoides tópicos e anti-histamínicos e, por vezes, dependendo da extensão das lesões, o uso de corticoides sistêmicos pode ser necessário. A automedicação é totalmente contra indicado, os pacientes devem buscar orientação médica.

“Com a comprovação das cerdas no exame direto, história clínica e epidemiológica extremamente compatível e relato de mariposas no local feito pelos moradores, concluímos que o mistério está resolvido e esperamos que os tratamentos corretos sejam ministrados à população”, afirmam Claudia Ferraz e Vidal Haddad Júnior.

Para identificar as causas reais, a dermatologista, Cláudia Ferraz, conduziu uma pesquisa sobre a história epidemiológica correta e descreveu adequadamente as lesões, o que levou a suspeitar da provável etiologia. Por sua vez, Vidal Haddad Junior, que havia testemunhado e publicado outros surtos, esclareceu a etiologia da erupção. 

 PB: 11 casos são registrados

Pernambuco registrou mais de 200 casos que foram identificados em duas comunidades limítrofes à mata, localizadas em uma área de reserva de mata Atlântica do Parque Estadual de Dois Irmãos, em Recife, com maior presença das mariposas. Na Paraíba, o número de casos relatados segue em 11, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES). 

Segundo a prefeitura do Recife, no entanto, pesquisas realizadas na cidade continuam e outras causas podem ser identificadas, isto porque alguns pacientes relataram não terem visto mariposas, além de sintomas semelhantes com arboviroses, que precisam ser investigadas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 09 de dezembro de 2021