por Nalim Tavares*
No Centro Histórico de João Pessoa, a Praça André Vidal de Negreiros, popularmente chamada de Ponto de Cem Réis, é um lugar de encontro para idosos que há muito se conhecem. Antes da pandemia, grupos grandes se reuniam para conversar, jogar damas, xadrez ou baralho, beber um pouco de café e, no processo, forjar amizades que, hoje, já se estendem por décadas. Em 2020, com a chegada da Covid-19, esses encontros foram interrompidos. Agora, com o avanço da vacinação e o retorno das reuniões presenciais, os idosos voltam ao Ponto de Cem Réis, para encontrar o ambiente familiar, marcado pela nostalgia, cheio de diferenças.
Ronaldo dos Santos Sales, de 73 anos, frequenta a Praça André Vidal há mais de 50 anos. Com um tom saudoso, ele conta que fez muitos amigos ao longo das tardes no Ponto de Cem Réis, mas, infelizmente, hoje encontra poucos deles. “De todo mundo que está aqui, conheço esses dois que estão aqui do lado. Muitos amigos que costumavam vir hoje não vêm mais”. Vacinado com as três doses contra a Covid-19, Ronaldo continua usando máscara para se proteger, e relembra as notícias que recebeu a respeito dos velhos amigos: “alguns partiram com o vírus, tiveram outras doenças, outros estão em casa, ainda com medo. Muitos do pessoal antigo não aparece por aqui há muito tempo.”
O relato é repetido pelos amigos de Ronaldo, que preferiram não se identificar. Cheios de memórias, os três amigos compartilham as informações que têm sobre os demais companheiros das tardes de prosa, que há muito não veem, e observam juntos as novas dinâmicas que se formam no local. Entre elas, estão amizades mais recentes, concebidas através do convívio com novos idosos que, assim como eles, se conheceram e passaram a se reencontrar no mesmo lugar.
Um dos novatos é Edmilson Lopes, de 72 anos, para quem o Ponto de Cem Réis só se tornou uma área de encontro há três anos. No caminho de ida e volta do banco, ele começou a se deparar com as mesmas pessoas e, aos poucos, foi se enturmando com elas. Hoje, ele é presença garantida em um dos bancos da praça, e joga dama com Yuji Kabayashi, a quem se refere como “professor”. Edmilson relata que Yuji, de 73 anos, foi um dos primeiros amigos que fez no Ponto de Cem Réis. O apelido, “professor”, surgiu depois de alguns encontros, quando Yuji o ensinou a jogar damas, que hoje disputam em partidas com público. Para Edmilson, os encontros fizeram falta durante a pandemia, quando todos tiveram que ficar em casa. “É um exercício, uma higiene mental, dama e xadrez. E sentar aqui, para conversar nesse lugar, é muito bom.”
Yuji chegou na Praça André Vidal de Negreiros há mais de dez anos e, assim como Ronaldo dos Santos e seus amigos mais antigos, percebeu que muitas pessoas novas estão chegando para jogar. Assim, os ciclos de amizade vão se renovando no Ponto de Cem Réis, que continua sendo um lugar de encontros.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 4 de julho de 2022.