Alimentos hiperpalatáveis são aqueles que possuem um sabor intenso e gratificante, o que os tornam irresistíveis e difíceis de parar de comer. Eles possuem uma combinação de sabores, texturas e aromas que realçam o gosto e estimulam fortemente o paladar, levando as pessoas a consumirem grandes quantidades em um curto período de tempo. Esses alimentos geralmente são ricos em gorduras, sal, açúcar e podem causar doenças.
As receitas são meticulosamente projetadas pela indústria alimentícia para maximizar o prazer sensorial e estimular o consumo. Na verdade, os alimentos hiperpalatáveis são realmente feitos para provocar uma reação semelhante ao vício, da mesma forma que as drogas, também estimulam os centros dopaminérgicos do cérebro.
Doenças crônicas de modo geral estão bem associadas ao consumo excessivo e frequente de alimentos hiperpalatáveis e ultraprocessados. As mais prevalentes são cânceres de diferentes tipos como intestino, mama, gástricos, diabetes mellitus tipo 2 e doenças cardiovasculares --- Jessica Lisboa
“Muitos deles acabam viciando mesmo! Afinal, cada organismo funciona de forma diferente e algumas pessoas são predispostas a gostarem mais de açúcar, outros de alimentos mais salgados, já outros mais de leite e derivados. Essa combinação ativa o sistema de recompensa cerebral e desperta boas emoções. O problema é que são momentâneas e, assim, o corpo sempre vai pedir mais”, afirmou a nutricionista funcional e integrativa, Jéssica Lisboa.
Salgadinho de pacote, bolacha recheada, chocolate, sorvete, macarrão instantâneo, bebidas açucaradas, pizza congelada, hamburguer, nuggets, batata frita, refrigerante, fast food, embutidos e diversos outros ultraprocessados são exemplos de alimentos hiperpalatáveis, ou seja, possuem um super sabor. O consumo excessivo aumenta os riscos de desenvolver problemas de saúde como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, obesidade e até câncer.
“Doenças crônicas de modo geral estão bem associadas ao consumo excessivo e frequente de alimentos hiperpalatáveis e ultraprocessados. As mais prevalentes no mundo são cânceres de diferentes tipos como intestino, mama, gástricos, diabetes mellitus tipo 2 e doenças cardiovasculares,”explicou, Jéssica Lisboa.
Portanto, é importante priorizar uma alimentação equilibrada e variada incluindo frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais, e limitar a ingestão de alimentos hiperpalatáveis e ultraprocessados.
A nutricionista frisou que no mercados é possível encontrar diversas opções mais saudáveis e muito saborosas. “Na clínica BC onde atendo, os pacientes conseguem provar em consulta, e se surpreendem com tantas opções boas e saudáveis,” destacou Jéssica Lisboa.
Vida estressante estimula consumo das famosas “comfort foods”
A sobrecarga, seja em maior ou menor intensidade, faz parte do dia a dia de qualquer pessoa. O ritmo acelerado é um dos grandes males da vida moderna. Para lidar com esse desequilíbrio emocional, cada indivíduo adota uma estratégia. Por exemplo, muitos apostam no consumo de alimentos, as famosas comfort foods, ou seja, qualquer produto que, quando ingerido em determinada situação, ocasiona conforto físico e psicológico.
As comfort foods são muito individuais, mas, em situações de estresse, é comum consumirmos uma maior quantidade de alimentos hipercalóricos para recuperarmos a energia gasta nesses momentos. No entanto, esse hábito pode ser extremamente prejudicial, pois, a combinação entre estresse e alimentação hipercalórica gera mudanças no cérebro que aumentam o desejo por comida, especialmente doces e alimentos hiperpalatáveis, e favorecem o ganho de peso.
“Quando estamos em estado de estresse e cansados, nosso corpo ativa o sistema de recompensa e muitas vezes comemos pela emoção repetindo ‘só hoje’, ‘eu mereço, tive um dia difícil´ ou até mesmo, sem perceber, quando a demanda ou responsabilidade de trabalho é alta pode vir o consumo de alimentos doces e/ou salgados como compensação”, disse Jéssica.
Ela explicou que esses produtos têm componentes como gordura associada ao açúcar ou excesso de sódio ou glutamato monossódico e geram aumento momentâneo de serotonina e dopamina, respectivamente, ativando emoções boas na pessoa.
Intensidade do sabor dos produtos industrializados gera dependência
Os alimentos hiperpalatáveis viciam o paladar, fazendo com que as crianças recusem outros itens de sabor não tão intensos, facilitando o estabelecimento da seletividade alimentar. Isso significa dizer que um menino ou menina pode consumir uma fruta doce, mas quando apresentada a um biscoito recheado, passa a recusar o alimento natural.
“O consumo frequente desses alimentos os distancia de uma alimentação saudável, afinal, pela explosão de sabores muitos vão preferir os ultraprocessados e hiperpalatáveis aos alimentos saudáveis que consideram muitas vezes sem gosto e sem graça,” realçou Jéssica Lisboa.
A nutricionista explicou ainda que a exposição à alimentos com alto valor calórico, favorece o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis na infância como a obesidade infantil, a hipertensão, a hipercolesterolemia, o diabetes mellitus tipo 2 e as doenças cardiovasculares. São doenças consideradas de pessoas em idade avançada, que hoje atingem crianças devido ao mau hábito alimentar. Esses produtos podem gerar carência de vitaminas e minerais, que terminam dificultando o aprendizado, o crescimento, causa puberdade precoce, alterações hormonais, bem como taxas desreguladas, sobrepeso entre outras,” concluiu.
Como Identificar?
As descrições das comidas hiperpalatáveis são, ao mesmo tempo, muito genéricas ou muito restritivas. Segundo um estudo da Universidade do Kansas, nos EUA e publicado pelo periódico científico Obesity, em novembro de 2019, esses produtos são aqueles que contêm: 25% ou mais das calorias vindas de gorduras e mais de 0,3% do peso constituído de sódio; Mais de 20% das calorias vindas de gorduras e outra porcentagem superior a 20% de açúcares; Cerca de 40% das calorias constituídas de carboidratos e mais de 0,2% do peso constituído de sódio.
Os pesquisadores destacaram que itens pouco gordurosos também podem ser hiperpalatáveis, como os vegetais preparados em molhos ou cremes.
“Os resultados sugerem que o método de preparação e processamento da comida é a chave para determinar sua hiperpalatabilidade, e não apenas o produto em si”, diz o estudo.
Outro dado interessante da pesquisa é que até alimentos ditos como dietéticos podem estar inclusos no grupo dos hiperpalatáveis. Segundo a nutricionista, Jéssica Lisboa, isso ocorre porque alguns produtos considerados dietéticos, no caso do zero, podem ter redução de um componente. Por exemplo, não ter açúcar, mas continuar tendo gorduras ou sódio em excesso, ou utilizar adoçantes artificiais que causam rebote no metabolismo.
“Alguns deles, caso seja consumida uma quantidade maior que a de 100g, começa a ter esses componentes em excesso, o que começa a ser um risco para a saúde. Sempre devemos prezar pelo equilíbrio, pois, até alimentos que consideramos saudáveis, se exageramos nas quantidades, se tornam algo prejudicial ao organismo,” destacou Jéssica Lisboa.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de janeiro de 2024.