Segundo o Censo Demográfico 2022 — Nupcialidade e Família, divulgado ontem (05) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Paraíba concentra 1.065 crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que vivem em algum tipo de união conjugal. Esse número corresponde a 0,3% das crianças e adolescentes paraibanos nessa faixa etária (283.702).
O número vai ao encontro dos dados nacionais. De acordo com o mesmo documento, o Brasil registra 34 mil pessoas entre 10 e 14 anos que vivem em situação conjugal no país. Do grupo, 77% são mulheres e a maioria é parda (20.414). No grupo nacional, 87% vivem algum tipo de relação consensual, 7% estão casadas no civil e no religioso, 4,9%, só no civil e 1,5%, no religioso.
Além dessa faixa etária, o recorte de 15 a 19 anos — embora pegue a faixa dos 18 e 19 anos — também é afetado pelo fenômeno das uniões conjugais entre adolescentes. Nesse caso, o número sobe para 27.885 casos, o que significa aproximadamente 10% dessa população.
Relações
Para além dos dados acima, o documento faz um passeio em relação às uniões conjugais pelo país. Nesses casos, o conceito abrange os casamentos civil e religioso, as uniões estáveis e as uniões não formalizadas em cartório — essas últimas duas sendo consideradas uniões consensuais.
No caso da Paraíba, houve aumento de 22,1% nas uniões consensuais. Entre os números totais de uniões conjugais, as uniões consensuais somam 40,1% (698,8 mil), o número mais expressivo do total. Segundo a publicação, o aumento nesses índices evidencia mudança de valores culturais, além de considerar os custos de formalização de um casamento.
Os números, portanto, segundo as interpretações do IBGE, refletem uma tendência atual. Esse é o caso de Juliana Cardoso e Victor Barbosa. Depois de um término e um hiato de quatro anos, em 2023, reencontraram-se em João Pessoa e decidiram, imediatamente, não apenas voltar, mas morar um com o outro.
“A principal motivação foi iniciar a construção da nossa vida juntos, não fazia mais sentido estarmos separados, pagando dois aluguéis”. Para eles, não há urgência no casamento. “Não somos religiosos, não pensamos em fazer festa. Prezamos muito mais por um elo emocional do que um documento assinado em cartório”.

- Unidos consensualmente, Nara Delgado e Caio Florentino também não têm o casamento convencional como uma prioridade
Também foi o que decidiram Nara Delgado e Caio Florentino, juntos há 11 anos. Em 2020, em plena pandemia, tiveram vontade de ter o próprio espaço, com mais autonomia e privacidade. “Na época, o casamento não era sonho ou prioridade. Por isso, optamos por comprar um imóvel juntos, em vez de gastar com casamento. Até o momento, não sentimos necessidade de oficializar a união. No entanto, caso seja necessário por questões legais ou burocráticas, não temos objeção em realizar o casamento civil. Não temos planos de casar no religioso”, explica Nara.
Outras uniões
Ainda segundo a publicação, a quantidade de pessoas com casamento só no civil comporta 19,7% do total, enquanto o grupo de pessoas com casamento civil e religioso abrange 36,4%. Já o casamento religioso só participa de 3,7% do total.
Do outro lado da moeda, as separações. A Paraíba ficou em nono lugar entre as unidades federativas do país com maior proporção de pessoas que viveram a dissolução de união conjugal.
Número de cônjuges do mesmo sexo cresce 18 vezes em 12 anos
A publicação indica que o número de cônjuges do mesmo sexo subiu na Paraíba 18,1 vezes de 2010 a 2022, passando de 888 para mais de 16 mil pessoas, abrangendo 0,9% do total de uniões. A maioria dos casais homoafetivos é feminina, com esse grupo abrangendo 61,3% do total, enquanto a parcela masculina é de 38,7% do total.
No Brasil como um todo, as uniões entre cônjuges ou companheiros do mesmo sexo corresponderam, em 2022, a cerca de 480 mil domicílios, o equivalente a 0,7% das unidades domésticas. Em 2010, esse número era de aproximadamente 58 mil, o que representava 0,1%. Nacionalmente, 58,3% dessas uniões eram formadas por mulheres e 41,7% por homens, percentuais superiores aos de 2010, quando eram 55,8% e 44,2%, respectivamente.
Mães solo
Outro dado é que, na Paraíba, 14,1% da população feminina era de mulheres que cuidavam de seus filhos sem a presença do cônjuge, ou seja, são mães solo. O número aumentou de 115,5 mil, em 2010, para 158,9, em 2022. A proporção no estado ficou acima da média brasileira (13,5%), mas abaixo da média nordestina (14,8%). A composição de pais monoparentais, ou seja, que cuidam sozinhos dos filhos, subiu para 1,8% do total da população masculina.
Mais indivíduos moram sozinhos e menos casais escolhem ter filhos
De acordo com o censo, 82,6% (1,1 milhão) eram compostas por duas ou mais pessoas com algum grau de parentesco, totalizando 1,2 milhão de famílias.
Entre essas famílias, 88,8% (1 milhão) eram famílias únicas, caracterizadas por unidades domésticas com apenas um núcleo familiar. As demais 11,2% (133,4 mil) eram famílias conviventes, quando além do núcleo principal, responsável pela unidade doméstica, há a presença de outros núcleos familiares.
O levantamento também mostra mudanças no perfil das famílias paraibanas ao longo do tempo. Em 2022, pela primeira vez, famílias únicas ou conviventes principais formadas por casais com filhos passaram a representar menos da metade do total no estado. Esse tipo de arranjo caiu de 56,4% (543,8 mil), em 2010, para 46,6% (525,3 mil) em 2022. Em sentido oposto, casais sem filhos apresentaram o maior crescimento no período, passando de 18,9% (182,4 mil) para 25,3% (285,3 mil).
Solitude
Das quase 1,4 milhão de unidades domésticas recenseadas na Paraíba em 2022, 16,5% (225.195) eram unipessoais — ou seja, formadas por pessoas que viviam sozinhas, esse número corresponde a um crescimento de 109,7% (de 107.393 para 225.195), em 12 anos.
O aumento foi maior no estado do que em nível nacional (96,3%) e em nível regional (104,8%). Além disso, foi considerada a nona colocação no ranking das unidades federativas. O número equivale a 16,5% das unidades domésticas.
A pesquisa mostrou ainda que, em 51,1% (115.150) das unidades domésticas unipessoais do estado, em 2022, a pessoa responsável pelo domicílio era do sexo masculino, ao passo que nas demais 48,9% (110.046) unidades, essa pessoa era do sexo feminino. Em relação a cor ou raça, a maioria das pessoas responsáveis pelas unidades domésticas são pardas (51,9%), seguida pelas brancas (37%) e pretas (10,6%). No que tange à idade dessas pessoas, o grupo etário com idade acima dos 60 anos era majoritário, com 42,1%, enquanto 47,8% tinham de 30 a 59 anos e apenas 10% tinham menos de 30 anos.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 6 de novembro de 2025.
