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com o calorão

Vale redobrar a atenção com os pets

publicado: 18/12/2023 09h52, última modificação: 18/12/2023 09h52
Alta temperatura pode causar queimaduras, estresse, desidratação e até a morte dos animais de estimação
2023.12.12_cão clube creche hotel © roberto guedes (313).jpg

Foto: Roberto Guedes

por Iluska Cavalcante*

Tapete gelado, frutas congeladas, passeios mais curtos e regados de muita hidratação. Esses são alguns recursos que os tutores de animais de estimação têm recorrido na hora de tentar livrar os pets das altas temperaturas do verão. Cachorros, gatos, aves e roedores, não importa a espécie, se for doméstico, a pessoa precisa ter a responsabilidade de cuidar da saúde desses bichos na estação mais quente do ano. Caso contrário, o excesso de calor pode trazer problemas como estresse, desidratação, insolação e até a morte do animal.

De acordo com o veterinário Helder Camilo, da clínica Veterinar, em João Pessoa, é fácil cometer alguns erros nesse período na tentativa de ajudar cães e gatos, uma das mais polêmicas tem sido a tosa. Quem nunca levou o animal para aparar os pelos com o objetivo de fazê-los suportar o verão com mais facilidade? No entanto, segundo o especialista, o tiro pode sair pela culatra.

Ele explica que em muitos casos, principalmente em raças caninas típicas do frio, a exemplo do husky e do chow chow, o pelo serve como um protetor térmico para o animal, e retirá-lo pode causar prejuízo para a saúde.

“Um exemplo clássico é o husky siberiano. Ele tem uma pelagem adaptada e aquele pelo longo o protege da incidência solar. Com isso, o sol não vai queimar a pele do animal. Embaixo do pelo tem uma outra camada que retém o ar. Ali fica se mantendo uma temperatura mais constante, para que quando o pet estiver no ambiente frio, dentro de casa, no ar-condicionado, não esteja tão gelado, e para que quando ele sair no sol, também não ganhe tanta temperatura”, alertou.

A empresária Anna Chiara da Silva Brito decidiu criar o Hachiko, um husky, há quatro anos e, desde então, a rotina da sua casa precisou mudar. O uso do ar-condicionado, por exemplo, que antes não parecia uma necessidade, virou indispensável.

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Veterinário Helder Camilo diz que um dos erros dos tutores é acreditar que a tosa vai alivar o calor dos animais. Isso, porém, pode prejudicar algumas raças - Foto: Roberto Guedes

Apesar dos maiores gastos desde que Hachicko chegou, ela conta que o amor pelo animal e a vontade de fazê-lo ter uma melhor qualidade de vida vencem os desafios. Além do ar-condicionado, ela tem adquirido novas alternativas, como o uso de tapete gelado, gelo na água, e o que ela chama de “dindin natural”, apenas com o suco da fruta.

“Ele sempre tem água fresca e geralmente gelada todos os dias, principalmente nessa época de calor. Também sempre tem um local fresquinho para deitar, mesmo que não esteja no quarto com o ar-condicionado, sempre tem um ventilador no pé dele”, comentou a empresária.

Hachiko já se acostumou com a rotina de ter sempre gelo a sua disposição, e independente da estação do ano, a tutora conta que ele mesmo aprendeu a pedir pelo refresco. “Às vezes, ele vai até mim na sala só para eu segui-lo até a geladeira, porque ele aprendeu que é de lá que vem o gelo. Então, a gente já deixa uns bloquinhos no freezer e fica dando para ele durante o dia”, contou Anna.

Para o veterinário Helder Camilo, esses cuidados são essenciais para manter a saúde do animal nesse período do ano, sejam eles cães ou gatos, principalmente de raças como a de Hachiko. Segundo o especialista, esses animais têm uma fisiologia mais propícia a lugares frios e acabam muitas vezes sofrendo em ambientes como o do Nordeste, caso os tutores não tomem os devidos cuidados.

“Criar esses animais aqui é uma crueldade, entre aspas, vamos dizer assim. Porque eles não são naturalmente desenvolvidos para um clima como o nosso. Aqui é um ambiente muito quente. Então, seria interessante a gente pegar animais de uma adaptação mais próxima da nossa realidade. Seria como colocar um urso na Bica, por exemplo. Ele iria enfrentar desafios. Mas, é preciso lembrar que esses animais são domésticos, então apesar de sentir o impacto da temperatura, eles conseguem se adaptar quando o tutor tem essa conduta”, afirmou Helder.

A empresária Silvia Maria é dona do espaço Cão Clube - creche e hotel, em Cabedelo, e precisa lidar diariamente com os cuidados especiais das mais diversas raças de cachorros. Ela é dona de uma cadelinha da raça whippet, que não sofre tão intensamente com o calor, mas ainda assim recebe cuidados especiais nesse período do ano. Na rotina diária da creche, Silvia opta por alternativas, a exemplo de pontos de água espalhados por todo espaço, deixando o líquido sempre disponível para o cão, além de uma área climatizada, onde ficam os cães que sofrem mais com altas temperaturas. Lá, eles fazem atividades e brincadeiras.

Por outro lado, há raças que precisam de uma atenção especial. De acordo com Helder Camilo, esses animais são os chamados braquicefálicos, que apresentam um focinho mais curto, a exemplo do pug e do maltês. Isso acontece porque os cães de focinho maior conseguem condicionar melhor o ar para que chegue a uma temperatura mais baixa no pulmão. Já os de focinho curto, não condicionam a temperatura e podem, muitas vezes, correr risco de vida.

Tutor deve ficar alerta para sinal de mal-estar

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Veterinária Luíza Madruga alerta para exposição de gaiolas - Foto: Arquivo Pessoal

O Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba (CRMV-PB) alerta que o calor excessivo pode trazer desidratação, que resulta em complicações respiratórias e cardíacas; insolação; estresse; e até mesmo provoca a morte do animal. “Nos dias quentes, os animais podem apresentar sinais de que não estão bem, e isso deve ligar o sinal de alerta nos tutores. Sintomas iniciais, como respiração ofegante excessiva e comportamento irregular não devem ser ignorados”, orientou o veterinário Altamir Costa.

Protetor solar é indicado para os albinos

O uso do protetor solar em animais de estimação também é recomendado, principalmente nos albinos. “Eu gosto muito, inclusive de uma proteção solar mecânica. Mas, é preciso também tomar cuidado porque alguns causam alergia em animais que têm sensibilidade. Minha recomendação é manipular o protetor”, explicou o veterinário Helder Camilo.

No caso dos gatos, o cuidado precisa ser maior naqueles de pelagem branca. O ideal é manter os felinos em casa para que, de forma independente, eles tomem sol em seu próprio tempo e horário. “Quando o gato vai tomar o solzinho dele, ele mesmo vai e volta, sem sair de casa. Esse controle é importante para evitar doenças como a carcinoma de células escamosas (CCE), muito comum em gatos brancos e cães albinos”.

Aves e roedores também sofrem com calor

As aves e os pequenos roedores como coelho e porquinho da índia também precisam de atenção na época de maior calor. “As aves como as calopsitas são animais ornamentais. O pavão e algumas galinhas também, então esses animais sofre, sim, e é um pouco mais complicado lidar com essa questão da hipertermia porque, naturalmente, eles já são mais quentes”, explicou o veterinário Helder Camilo. A veterinária Luíza Madruga deu algumas dicas relacionadas aos não convencionais.

Cuidados

Sintomas de cães e gatos que servem de alerta no verão:

  • Cães e gatos ficam mais ofegantes;
  • Frequência cardíaca aumentada;
  • Hipersalivação;
  • Animais com comorbidades, como aqueles que já são idosos, obesos ou com problemas cardíacos merecem uma atenção maior.

Práticas recomendadas, por Helder Camilo, na época mais quente do ano para cães e gatos

  • Passeio em horários adequados. Se possível, o tutor deve colocar o pé no chão para verificar se o piso ainda está quente;
  • Exercícios com intensidade reduzida, sem cansar o animal;
  • Em caso de oferecer alimentos, nunca optar por frutas cítricas;
  • Água de coco e as frutas precisam ser em pouca quantidade para não desbalancear a alimentação do animal.

Orientação

  • Não se deve deixar gaiolas expostas ao sol, pois o metal aquece o interior do recinto;
  • A água deve ser oferecida com mais frequência, assim como vegetais frescos, principalmente para os roedores;
  • Algumas aves gostam de se molhar em bebedouros ou mini banheiras, mas o borrifador também pode ser uma opção, caso elas já estejam acostumadas.
  • Os répteis normalmente se adaptam ao período de calor. A atenção redobrada deve ser no inverno, com as temperaturas mais baixas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 17 de dezembro de 2023.