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Donos de pequenos comércios no Campus de João Pessoa denunciam que aluguéis subiram até mais de 10 vezes

Valores abusivos: comerciantes protestam na UFPB

publicado: 03/06/2022 09h08, última modificação: 03/06/2022 09h08
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Foto: Evandro Pereira

por Alexsandra Tavares*

Os comerciantes que trabalham no Campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizaram um protesto na manhã de ontem na Cidade Universitária. A concentração ocorreu próximo à entrada do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) com destino à Reitoria. Eles reivindicam uma negociação com a Reitoria para tentar reduzir o valor do reajuste dos aluguéis dos estabelecimentos onde atuam. Eles vestiam blusas pretas e usaram apitos. Os novos valores, que podem chegar a R$ 19 mil mensais, passarão a ser cobrados a partir deste mês, quando a universidade inicia o recesso de mais de 40 dias.

“O recesso começa agora no final de junho e vai até agosto. Então, a gente se pergunta como é que vamos pagar esse valor tão alto dentro de recesso de 45 dias? Fica inviável!”, declarou a empreendedora Isa Maria de Oliveira, que vende alimentos em um quiosque.

Os comerciantes afirmaram que há empreendimentos de maior porte, como agências bancárias, funcionando no campus, que pagam valores menores do aluguel do que os vendedores de alimentos, assim como os que trabalham nas papelarias ou oferecendo serviço como fotocópia. Os permissionários afirmam que já entraram na Justiça Federal para tentar negociar os valores.

O comerciante Wagner Carlos contou que há 30 anos trabalha na UFPB e tinha um estabelecimento que oferecia serviço de xerox, mas foi despejado. “Meu aluguel saiu de R$ 850 e foi para R$ 6 mil. Como não pude pagar, fui despejado esse ano. Construí o meu ponto comercial há cerca de 30 anos e quando me expulsaram não recebi nada”, contou.

Wagner Carlos declarou que conseguiu uma nova permissão para trabalhar dentro da universidade, mas numa banca de revista. Para ele, o negócio não tem a mesma lucratividade. “O meu reajuste deve chegar agora em julho e já estou com medo, porque todo mundo que recebeu aumento foi muito alto. Por enquanto, pago R$ 450, mas a banca não vende nada. Eu queria mesmo era voltar ao primeiro ponto, porque na época gastei cerca de R$ 30 mil. Está tudo documentado. E não é justo eu ter construído e ter de sair sem nada”, disse.

Representantes do Sindicato dos Professores da UFPB (Adufpb) também participaram do protesto. O diretor de Comunicação da entidade, Cristiano Bonneau, afirmou que os permissionários que utilizam o espaço da universidade prestam importante serviço à comunidade acadêmica e aos moradores que vivem próximos do campus. “Há uma estimativa de que cerca de 20 mil pessoas da comunidade interna e externa circulam diariamente dentro da UFPB e se utilizam de muitos serviços da universidade”.

Cristiano declarou que todos os reajustes dos permissionários, anunciados na gestão do atual reitor, Valdiney Gouveia, estão dentro de um patamar muito alto, inclusive o da Adufpb que, segundo ele, foi de 700%. “Essas cobranças são abusivas porque não foram discutidas com a comunidade e atingem desde entidades que não têm fins lucrativos, até esses pequenos comerciantes que prestam serviços importantes dentro do Campus”. No caso da Adufpb, ainda há uma cobrança retroativa de aluguel sob a alegação de que os valores não foram pagos. “É uma mentira, porque temos documentação comprovando”, declarou. Ele falou que há reajustes para os comerciantes que chegaram a 200% ou mais, com valores que são mais caros do que o aluguel cobrado às agências bancárias que funcionam na universidade. 

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) apoiou o movimento. O coordenador-geral da entidade, Ruan Navarro, declarou que os pequenos empreendedores correm o risco de serem despejados. “E se isso ocorrer, podem surgir estabelecimentos com serviços mais caros, para substituí-los. Isso afeta o estudante, porque esses quiosques que vendem alimentação, hoje em dia, têm preços populares. Para piorar, o Restaurante Universitário está fechado por conta de uma reforma, então, dependemos desses quiosques”, disse.

Audiência

A deputada estadual Cida Ramos, que também é professora universitária, participou do protesto e comentou: “Eles são essenciais para que a gente possa permanecer durante todo o dia aqui no campus. Estamos tentando conversar com o reitor. Agendei uma audiência para o dia 6 (segunda-feira) com ele na intensão de obter uma resposta sobre o assunto”. Para a também deputada estadual Estela Bezerra, o que houve foi uma revisão injusta nos valores. “Todo mundo quer honrar seus compromissos, mas é preciso se fazer uma revisão justa”.

O reitor da UFPB, Valdiney Gouveia, declarou que “o valor dos aluguéis e os reajustes estavam previstos nos contratos que foram assinados pelos permissionários, o que ocorreu antes de assumirmos a universidade”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 3 de junho de 2022