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SEGURANÇA ALIMENTAR

Voluntários ajudam a matar a fome

publicado: 01/08/2025 08h45, última modificação: 01/08/2025 08h45
Cozinha Solidária, no Gervásio Maia, transforma doações em refeições para pessoas em vulnerabilidade
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Associação de cidadania e inclusão beneficia, respectivamente, 167 famílias no bairro onde está localizada e 800 em todo o estado | Foto: Divulgação/Gov.BR

O Programa Cozinha Solidária é uma das iniciativas públicas brasileiras que contribui para combater a insegurança alimentar e que levou o Brasil a sair do Mapa da Fome

No bairro Gervásio Maia, na periferia de João Pessoa, a Cozinha Solidária da Associação de Cidadania e Inclusão Social atua, há três anos, na distribuição de refeições preparadas com doações públicas. Duas vezes por semana, cerca de 15 mulheres dedicam-se à produção de marmitas que oferecem alimentação de qualidade e promovem dignidade às famílias atendidas.

“Aqui é um bairro esquecido, literalmente. Nossa luta vai além da fome: é por moradia, por saneamento, por direitos básicos”, relata Patrícia da Silva, de 45 anos, voluntária e uma das coordenadoras da iniciativa. Ela conta que os alimentos utilizados na preparação das marmitas são fornecidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Mas é o tempero das mãos voluntárias que faz a diferença.

Atualmente, 167 famílias são atendidas diretamente pela Cozinha Solidária no bairro, enquanto a associação, em toda a Paraíba, beneficia cerca de 800 famílias. “Tem criança que chega sem ter tomado café. Alguns dizem que é ‘olho gordo’, mas não — é fome mesmo”, desabafa Patrícia. Ela também destaca que todas as voluntárias vivem em condições semelhantes às das pessoas que ajudam. “A gente não tem emprego, ninguém é aposentado, vivemos do Bolsa Família. O nosso pagamento é o sorriso do próximo, é um abraço que a gente recebe”, diz.

A Cozinha Solidária da Associação de Cidadania e Inclusão Social integra um movimento nacional de combate à insegurança alimentar. Em todo o país, 1.124 cozinhas solidárias estão habilitadas pelo programa, e 384 delas recebem apoio do Governo Federal, o que já resultou na distribuição de 13 milhões de refeições gratuitas.

Para quem recebe, o impacto vai muito além do prato de comida. Josinete Lourenço Guerra, beneficiária e uma das primeiras da fila, resume: “A comida daqui salva. É saudável e deliciosa”, comenta, enquanto espera sua refeição.

Ao fim de cada jornada, o sentimento de missão cumprida une as voluntárias. “Quando entrega a última marmita, todo mundo grita: ‘Acabou! Cumprida a missão de hoje’”, conta Patrícia. Mesmo com o avanço das políticas públicas, a batalha no Gervásio Maia continua. “Todo mundo tem o direito de comer bem. Se cada um fizesse um pouquinho, não existiria miséria no mundo. Nós fazemos parte do Brasil que alimenta, e, se Deus quiser, daqui para frente, será só fartura”, finaliza.

Saída do Mapa da Fome

O trabalho de iniciativas como essa reflete diretamente em conquistas maiores. No dia 28 de julho, o Brasil foi oficialmente retirado do Mapa da Fome. O anúncio foi feito durante o lançamento do Relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (Sofi 2025), durante a 2ª Cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Sistemas Alimentares, em Adis Abeba, Etiópia. O resultado baseia-se na média trienal de 2022 a 2024, que apontou o país com menos de 2,5% da população em situação de subnutrição ou sem acesso suficiente à alimentação.

A publicação, elaborada anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em parceria com a ONU, reúne dados atualizados sobre a fome, insegurança alimentar e os avanços globais na nutrição. No caso do Brasil, o feito é resultado de decisões políticas voltadas a redução da pobreza, geração de emprego e renda, apoio à agricultura familiar, fortalecimento da alimentação escolar e ampliação do acesso a alimentos saudáveis.

Projeto

Um dos pilares dessa conquista é o Programa Cozinha Solidária, criado pela Lei nº 14.628/2023 e regulamentado pelo Decreto nº 11.937/2024. A iniciativa tem como objetivo oferecer alimentação gratuita e de qualidade à população em situação de vulnerabilidade e risco social, incluindo pessoas em situação de rua e em insegurança alimentar e nutricional. Ao transformar políticas públicas em ações concretas, o programa fortalece redes de solidariedade como a do Gervásio.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 1º de agosto de 2025.