A escolha do próximo reitor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) caminha para um momento decisivo. Na próxima terça-feira (10), das 8h às 22h, estudantes, docentes e técnicos administrativos voltarão às urnas — desta vez de forma virtual — para escolher entre as chapas de Antônio Fernandes Filho, atual reitor que tenta a reeleição, e Camilo Allyson Simões de Farias, primeiro colocado no primeiro turno, realizado no último dia 3. Como nenhuma das três chapas concorrentes alcançou mais de 50% dos votos válidos (50% mais um), será necessário consultar a comunidade acadêmica pela segunda vez.
No primeiro turno, a Chapa 3, liderada por Camilo Allyson e Fernanda de Lourdes Almeida Leal, foi a mais votada, com 45,3% dos votos. Já a Chapa 1, encabeçada por Antônio Fernandes e Patrícia Hermínio Cunha Feitosa, ficou em segundo, com 32,4%. E a Chapa 2, formada por Maria Angélica Sátyro Gomes Alves e Rosilene Dias Montenegro, obteve 22,3% dos votos válidos, não avançando para o segundo turno. Para se ter ideia, mais de 10,5 mil pessoas participaram do pleito, entre estudantes, professores e técnicos administrativos. No entanto, a taxa de abstenção também foi alta: dos quase 18 mil estudantes da UFCG, apenas oito mil votaram. Entre docentes e servidores, praticamente 400 pessoas ficaram de fora.
Democracia
Enquanto a comunidade acadêmica se prepara para definir o futuro da UFCG, as discussões sobre o respeito à consulta interna ganham força. Em 2021, o atual reitor, Antônio Fernandes, foi nomeado ao cargo mesmo tendo ficado em terceiro lugar na votação interna, o que gerou debates sobre a autonomia universitária. Por outro lado, neste ano, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) viveu uma situação oposta: a nomeação de Terezinha Domiciano, primeira colocada na consulta pública, renovou a confiança no processo democrático. Agora, em Campina Grande, a expectativa é de que a mesma lógica prevaleça com a oficialização da chapa vencedora pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a divulgação da lista tríplice.
A presidente da comissão eleitoral da UFCG, Verônica Medeiros, reforça que o desejo da comunidade deve sempre ser respeitado. “O presidente já deu várias declarações e nomeou reitores dentro da lista tríplice com base na consulta pública”, observa. Segundo ela, esse compromisso com a transparência fortalece a autonomia e a democracia nas instituições, dois valores fundamentais para manter a confiança entre a comunidade e a gestão universitária.
Participação da comunidade acadêmica ocorrerá de forma virtual; resultado deverá sair no mesmo dia
Consulta paritária
Além disso, Verônica destacou o caráter inovador deste pleito em comparação com consultas anteriores, que seguiam uma regra antiga, de 1995, na qual o peso do voto dos professores era de 70%, enquanto estudantes e técnicos administrativos somavam apenas 15% cada. “Desta vez, a consulta foi organizada de maneira paritária, com peso igual para todos os segmentos, o que torna o processo mais equilibrado e representativo da comunidade acadêmica”, explicou.
Entretanto, embora a mudança já represente um avanço significativo, o atual reitor da UFCG e candidato à reeleição, Antônio Fernandes, defende que é preciso aperfeiçoar ainda mais o formato da consulta. “Desta vez, a paridade aconteceu, mas o ideal é que cada voto tenha o mesmo valor, independentemente da categoria. O processo democrático está acontecendo, mas ainda há muito a melhorar para garantir uma representatividade ainda mais justa”. “Sem dúvida, o que a comunidade acadêmica deseja é que o processo deixe de ser uma mera consulta e se transforme em uma eleição efetiva, com poder para eleger seu representante — em vez de compor uma lista tríplice”, completou.
De acordo com a presidente da comissão, o resultado da consulta será divulgado já no final do dia 10, logo após o encerramento da apuração, com transmissão ao vivo pelo canal da UFCG, no YouTube.
A lista tríplice, por sua vez, será homologada pelo Colegiado Pleno, em uma reunião marcada para o dia 13, quando será encaminhada ao Ministério da Educação. A nomeação deverá ser oficializada pelo presidente por volta do dia 20 de fevereiro de 2025.
Eleito enfrentará desafios para equilibrar finanças da universidade
Independentemente do resultado, o próximo reitor terá desafios urgentes pela frente. Em tempos de restrições orçamentárias, a UFCG precisará equilibrar as contas, enquanto mantém a qualidade de ensino e avança nas áreas de pesquisa e extensão. Hoje, a instituição é conhecida por ser a primeira no Brasil em registros de patentes, o que evidencia seu protagonismo no campo da inovação e delineia um futuro bastante promissor, apesar dos obstáculos.
Antônio Fernandes, que esteve à frente da universidade nos últimos anos, complementa a lista de afazeres, citando ainda a importante missão de combater o desinteresse pelo ingresso nas universidades federais, algo preocupante na sua visão. “Esse, talvez, seja um problema mais grave do que a evasão, que já é alta. É reflexo de anos de cortes orçamentários e falta de investimentos. Precisamos buscar recursos ‘extra-MEC’, algo que conseguimos fazer muito bem nesta gestão”, afirmou. Quem ocupar o cargo também herdará uma gestão mais transparente e descentralizada, de acordo com o reitor. “Nós saímos do penúltimo lugar em transparência ativa, no ranking da Controladoria Geral da União (CGU), para o primeiro.” Antônio também ressalta a execução de 100% do orçamento da universidade, revertendo um histórico de devolução de recursos à União. “De 2017 a 2020, foram devolvidos R$ 50 milhões por ineficiência”, conta.
Além disso, há questões estruturais e de acessibilidade que precisam ser superadas com urgência. Quem faz o apontamento é a professora Maria Angélica Satyro Gomes Alves, terceira colocada na consulta acadêmica. “Temos demandas de inclusão e acessibilidade, especialmente no atendimento a pessoas com deficiência física e surdas, como intérpretes de Libras e cuidadores. Também precisamos avançar na infraestrutura, com construção e adequação de salas de aula e laboratórios, que sofrem com o desgaste e a falta de insumos”, apontou. Segundo ela, o orçamento da instituição não tem acompanhado o crescimento das demandas, o que, em suas palavras, “é bastante desafiador”.
Para a professora, o combate à evasão e a melhoria dos índices acadêmicos serão pontos centrais nos próximos anos. “É essencial avaliar nossos indicadores para planejar o ensino de forma estratégica, combatendo a evasão e garantindo a captação de estudantes”, analisa. Angélica, que recentemente declarou apoio à Chapa 3, liderada por Camilo Allyson, também considera fundamental o comprometimento com os valores democráticos da universidade. “É obrigatório respeitar a comunidade universitária nas suas escolhas”, conclui.
A reportagem tentou contato com o professor Camilo, o candidato mais votado no primeiro turno, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 06 de dezembro de 2024.